2 de setembro de 2012

Leveza


No centro de um lindo jardim, Ele veio ao meu encontro.

Imponente, porém simples.

Envolto em Glória, mas sorrindo como uma criança.

Deus, porém Homem.

Jesus Cristo.

- Você está com algumas coisas que não te pertencem. - Ele me disse.

- Que coisas, Senhor? - Perguntei.

- Coisas minhas que você insiste em guardar para si.

Seu tom de voz era gentil. E foi sua doçura que derrotou minha dureza.

- Então quero devolvê-las, Senhor. - Respondi.

Seus olhos castanhos se estreitaram.

- Isso é maravilhoso, mas há um problema.

- Que problema?

- Você ficará mais leve. - Ele advertiu, parando de sorrir por um instante.

- Não vejo problema nisso, Pai.

E realmente não via.

Andava precisando perder uns quilinhos.

Demorei para perceber que Ele não se referia à leveza do corpo, mas à da Alma.

- Pois então comece me devolvendo seus medos. - Ele ordenou.

E eu, obedientemente, acatei.

Devolvi meu medo da Morte, das Decepções, da Derrota.

Devolvi até mesmo o medo de andar de avião.

E fiquei realmente leve. Maravilhosamente leve!

Sorri, mas Ele ainda não havia terminado.

- Agora devolva-me sua ansiedade.

Ah, como aquilo me fez bem!

Devolvi minha ansiedade em vencer, ganhar dinheiro, ter uma profissão.

E fiquei ainda mais leve.

Aliás, fiquei leve até demais, como se meu corpo estivesse se dissipando.

Por um instante, pensei em questioná-Lo.

Apesar, porém, da sensação incômoda, mantive o sorriso.

- Agora devolva-me suas falhas. - Ele sussurrou, acariciando-me o rosto.

Respirei fundo (essa parte era difícil!) e as devolvi.

Devolvi minha infidelidade, maus pensamentos, preguiça, indisciplina e tudo o mais.

E então, subitamente, percebi que estava levitando.

Meus pés já não tocavam o chão, eu me sentia frágil como uma sombra e tive medo de cair.

- Senhor, eu... - Iniciei a frase, aterrorizado, mas Ele me interrompeu:

- Eu disse que você ficaria mais leve, filho.

- Mas...

- Você pode parar se quiser. Não irei obrigá-lo a nada.

Admito: Parte de mim desejava o chão.

Parecia-me mais seguro.

Mas outra parte, talvez menor, mas mais forte, queria mais.

Mais leveza. Mais d'Ele.

- Não quero parar. - Respondi.

- Então, devolva-me seus sonhos.

Uau, aquilo era difícil! Sentia-me tonto, sem saber onde me apoiar.

Mas fechei os olhos e, como por um milagre, consegui devolvê-los.

O sonho de tornar-me pastor, de me casar com Helen, de ver minha família unida.

Entreguei-lhe todos, até não me restar nenhum.




E, para minha surpresa, flutuei ainda mais alto.

Estava leve como um grão de poeira e não pude conter um grito:

- Senhor, eu estou...

- Voltando ao seu peso normal. - Ele respondeu - Agora só te falta uma coisa.

- O quê? - Perguntei, soando mais rispidamente do que gostaria.

- Seu coração.

O oxigênio parecia fugir de meus pulmões.

Minha cabeça girava.

Mas eu o entreguei.

Lenta e dolorosamente, eu o entreguei.

Entreguei tudo, até que não me restasse nada.

E então comecei a voar.

Eu não sentia meu corpo, eu não sentia a mim mesmo, eu...

Ele estava ao meu lado.

- Senhor, estou com muito medo!

- De quê? - Ele replicou, como o cão que explica ao ratinho que não há nada a temer no gato do vizinho.

- De cair.

Ele sorriu novamente. Sorriso travesso.

- Não há mais nada em você que possa ser quebrado.

"Isso é verdade!", pensei.

- Mas eu estou muito longe do chão! - Respondi.

- E quem disse que isso é ruim? - Ele replicou - Experimente relaxar.

Eu queria, mas uma última dúvida me atormentava:

- Se o Senhor pegou meu peso, como consegue voar?

- Seus pesos não estão comigo.

- Mas, Senhor, se não estão comigo nem contigo, onde eles estão?

Ele limitou-se a mostrar as mãos, marcadas no centro por uma mancha negra.

Marcas de pregos.

Finalmente sorri.

Ele não precisava dizer mais nada.

E, juntos para todo o sempre, continuamos a voar...

2 comentários:

  1. "Lançai sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós." I Pe 5:7

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  2. Que benção este post!

    Vc é muito usado por Deus, meu amor!

    Te amo

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