3 de outubro de 2012

Três Cruzes e um Reino


"E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino."
 
Lucas 23:42


É o fim.

Seus pulmões sofrem para encontrar oxigênio.

Seus ossos estão quebrados.

Seus pulsos sangram.

Pendurado naquela cruz, aquele ladrão não tem mais nada a fazer, a não ser pensar em si mesmo.

E as lembranças não são nada boas.

Muitos Pecados, pouquíssimos acertos.

Enquanto sua morte se aproxima, ninguém chora aos seus pés.

Ele não tem ninguém.

Ele não é ninguém.

Cansado de olhar para baixo, ele olha para o lado.

Um homem, em situação idêntica a sua, também agoniza.

Um detalhe, porém, lhe chama a atenção.

Sobre a cruz do outro uma placa anuncia: "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus".

Por um instante, o ladrão esquece das próprias dores.

"Rei? Sem coroa, sem trono, sem... Reino?"

Ele abre a boca, mas, antes que consiga pronunciar as palavras, ouve insultos.

- Ei, Reizão, você não é poderoso? Então por que não tira a gente daqui?

Do outro lado, seu parceiro de crimes (também pendurado numa cruz) zomba do homem.

O ladrão, já engolfado pela morte, fecha os olhos enquanto decide a quem seguir.

O que deveria fazer?

Zombar do "Rei" para aliviar a raiva ou...

Sua resposta chega antes que a pergunta seja formulada.

Basta olhar para o Homem.

Para sua expressão de paz em meio ao sangue.

Seu ar de amor em meio a dor.

Seus lábios fechados enquanto é insultado.

Naquele instante, o ladrão percebe:

Aquele homem não tinha trono ou coroa. Mas tinha um Reino.

- Pare de insultá-lo! - Ele repreende o colega, com as parcas forças que lhe restam. - Será que não percebe? Eu e você merecemos estar aqui, mas este homem não fez nada!

Alguns segundos se passam sem que ninguém fale nada.

O zombador fica quieto.

O defendido também.

Cabe ao adorador quebrar o silêncio:

- Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.

As palavras lhe escapam antes que possa filtrá-las.

(A verdadeira Adoração é sempre espontânea)

E finalmente o Rei ergue a cabeça.

- Ainda hoje estarás lá comigo.

O ladrão sorri.

Seus dentes podres estão ensanguentados.

Seus lábios, estourados.

Mas sua alegria está intacta.

Seu Fim foi transformado em Recomeço.




***

Pouco tempo depois, seus pulmões falham.

Seu coração para.

E ele se vai.

Subitamente, mãos o conduzem.

Ele abre os olhos e vê-se limpo.

As ruas são de ouro.

Anjos cantam.

E à sua frente, seu Rei sorri.

Com coroa, trono e tudo o mais.

- Seja bem-vindo ao reino que preparei pra você, meu filho!

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