29 de novembro de 2011

O Mergulho

Aquele era o rio mais lindo que eu já vira em toda a minha vida.

Para ser sincero, há anos eu o observava.

Gostava de inspirar o ar puro de suas margens, admirar o leve balançar de suas águas e ser envolvido pela pureza do imaculado cenário.

Acima de tudo, porém, amava vê-Lo se banhando alegremente, como uma criança numa piscina de clube.

Como uma criança. Era exatamente assim que Jesus se banhava naquele rio.

Ao contrário de mim, Ele não parecia ter medo de se molhar.

Enquanto eu continuava na (segura e confortável) margem, Ele mergulhava (perigosamente, na minha opinião) de mil maneiras diferentes.

Eu, covarde por excelência, não conseguia entender aquela coragem.

- Venha! - Ele me chamava todos os dias, ao avistar-me a observá-lo. - A água está uma delícia! Mergulhe comigo!

Eu acenava, oferecia-lhe um sorrisinho amarelo e avançava não mais do que alguns centímetros (ou seriam milímetros?) apenas para não parecer mal-educado.

Jesus, no entanto, não parecia notar meu desânimo e jamais deixava de me convidar.

Eu, por minha vez, estava satisfeito em divertir-me ao vê-Lo se divertindo.

Pensei que viveria daquela maneira para sempre.

Eu e minha vidinha confortável e previsível. À beira do Rio da Vida, sem, entretanto, se banhar nele.

Até que, repentinamente, observar deixou de ser o suficiente.

Percebi que eu era um "falso amante" do Rio, pois como eu poderia dizer que o amava se nunca o havia experimentado?

Que graça tinha o frescor da água em meus tornozelos se o restante de meu corpo permanecia seco?

Seco.

Bela palavra para descrever a maneira como me sentia.

Observar o rio não me incluía no time dos "molhados", assim como apenas observar um frango assado não faz um estômago parar de roncar.

Eu precisava sentir aquela água. Senti-la em sua essência, em cada centímetro de meu corpo (e, por que não?, da minha Alma).

- Venha! - Clamava Jesus, em seu constante convite. - A água está uma delícia! Mergulhe comigo!

Eu, náufrago numa ilha que eu mesmo havia fundado, resolvi deixar de ignorá-Lo.

Resolvi experimentar.

Meu aceno, antes tímido, tornou-se firme e decidido.

Meu sorrisinho amarelo se embranqueceu.

E eu, ainda que relutantemente, avancei.

***
Dei o primeiro passo.

A água atingiu minhas canelas, que se arrepiaram de frio.


 Segundo passo.

Pensei que iria desmaiar, pois minhas pernas pareciam ser de gelatina.

Terceiro passo.

A água já estava em minhas coxas.

Quarto passo.

Água no umbigo e coração na mão.

Quinto passo.

Água até o peito.

Sexto Pas...

Parei, subitamente incapaz de prosseguir.

O Medo começou a sufocar minha Vontade.

A segurança trazida pelo Seco batalhava contra o prazer prometido pela Água.

Comecei a assustar-me comigo mesmo.

No que estava pensando, afinal?

Como pude achar que seria capaz de chegar até ali?

Eu não era aquele tipo de pessoa! As margens eram confortáveis, para que arriscar-se na água?

Fiz menção de voltar para a superfície, mas antes de dar o primeiro passo, lembrei-me de Jesus e seu constante convite.

Ele me encarava, surpreendentemente quieto.

Intrigado (e, confesso, um pouco bravo), anunciei:

- Estou indo embora! Nunca mais entro nesse rio!

Jesus sorriu, limitando-se a levantar os ombros.

Eu, que esperava por uma reação mais enérgica, repliquei (já, confesso, bastante bravo):

- O Senhor não vai me convidar para ficar?

Para meu total assombro, Ele fez que não com a cabeça.

Revoltado, dei um tapa na água, desejando que minha mão pudesse machucá-la, e respondi:

- Durante infinitos dias, o Senhor me chamava e eu nunca entrava! Agora, que finalmente decidi entrar, o Senhor me trata desta maneira?

Tentei decifrar o olhar de Cristo, mas não encontrei nada além de Misericórdia.

Em tom calmo e sereno (tão diferente do meu!), Ele respondeu:

- Filho, eu te amo. Meu maior desejo é que você mergulhe comigo e se divirta ao meu lado. Por que você acha que te convidei todos os dias?

Silêncio da minha parte.

Da parte d'Ele, um novo sorriso e a continuação:

- Hoje, finalmente consegui te atrair. Mas o que Eu posso fazer se você, mesmo provando o quão deliciosa é a água, prefere voltar para a sequidão de sua vida lá fora?

Parei (sem avançar ou recuar), medindo o peso daquelas palavras.

Após alguns minutos, finalmente consegui murmurar:

- Eu quero ficar na água, Pai. Preciso da Sua ajuda.

- E Eu te darei toda a ajuda do mundo, filho. Mas o primeiro mergulho só pode ser dado por você. Caminhar comigo é ser carregado no colo, mas para isso é preciso dar o primeiro passo. Posso fazer tudo por você, mas é você que precisa decidir chegar até mim.

Alguns segundos se passaram.

Tremi.

Temi.

Chorei.

Mas, finalmente, mergulhei.

Mergulhei tanto que não posso continuar a contar esta história.


Estou molhado demais e tenho medo de danificar o teclado do computador...

Um comentário:

  1. um dos melhores post fizemos questão de lê-lo novamente! Jesus, Arthur e Helem! Uma benção!

    Beijos

    Ass: Jesus, Romulo e Sarah

    ResponderExcluir