12 de dezembro de 2011

A Desvantagem

"Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. Pois eles dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde."

Salmos 37:1,2

Juca era um homem simples. Garanto que você não o olharia duas vezes se passasse por ele.

Resumindo, Juca era apenas mais um.

Mais um no meio de uma barulhenta (e desatenta) multidão.

Juca morava sozinho num pequeno casebre, alimentando-se apenas do que sua pequena horta produzia.

Juca vivia de maneira rotineira e previsível, sem grandes posses ou realizações, mas com uma Diferença: Juca servia a Jesus!

A poucos metros de sua casa, morava Joca, seu irmão.

Apesar dos nomes, Juca e Joca estavam longe de formarem uma unida dupla sertaneja.

Enquanto Juca era (como eu já disse) simples e honesto, Joca era espalhafatoso e corrupto.

A humildade de Juca era o perfeito contraste da soberba de Joca.

E, ao contrário do irmão, que aparentemente não possuía nada, Joca parecia ter tudo.

Nunca estava sozinho, pois vivia rodeado de amigos que lhe faziam companhia.

Não morava num casebre, mas sim em um casarão de cômodos espaçosos, belos móveis e piscina.

Joca tampouco dependia de hortas e em sua mesa sempre havia carne, pois era dono de uma fazenda que lhe rendia lucros exorbitantes.

Apesar da proximidade de corpos (apenas uma cerca separava suas casas), uma enorme distância separava a Alma dos dois irmãos.

Anualmente, porém, Juca se reunia com o irmão, seu único parente ainda vivo, para celebrarem juntos o Natal.



À mesa (enquanto devoravam os mais diversos quitutes), Joca e seus amigos costumavam zombar de Juca e sua simplicidade.

Todos os anos, porém, Juca suportava em silêncio toda e qualquer provocação.

Houve um ano, no entanto, em que Joca decidiu provocar o irmão até que este finalmente se irritasse.

Sorrindo e cutucando um amigo ao seu lado, ele perguntou, em tom de zombaria:

- Às vezes você não se revolta com a vida, Juca?

Juca franziu a testa antes de responder com sinceridade:

- Por que haveria de me revoltar? Sou um homem tão abençoado!

- Abençoado? - Replicou Joca, em tom irônico. - Você é um solitário, vive sozinho, sem nunca ter ninguém para conversar!

Juca, calmo, respondeu:

- Não encaro isso como uma desvantagem.

Enquanto os amigos sufocavam as risadas, Joca continuou com seu plano:

- Mas, além de sozinho, você mora naquele casebre ridículo! Mais parece casa de passarinho do que de gente!

Novas gargalhadas ecoaram pela mesa. Sem se deixar abalar, Juca deu a mesma resposta:

- Não encaro isso como uma desvantagem.

Joca, começando a irar-se com a tranquilidade do irmão, desafiou-o novamente:

- Mas, além de morar sozinho e numa casa minúscula, você ainda se alimenta daquelas míseras verduras da sua horta, enquanto eu tenho uma mesa repleta! E agora, sua vida não te parece ruim?

Vocês podem adivinhar a resposta de Juca:

- Não encaro isso como uma desvantagem.

Joca, descontrolado, levantou-se da cadeira e deu um soco na mesa.

Todos se sobressaltaram, menos Juca, que mal se mexeu.

- Posso saber por que você não acha que sua vida é uma porcaria, seu derrotado? - Gritou Joca, apontando o dedo ameaçadoramente para o irmão. - Será que você é cego? Não percebe que minha vida é muito melhor do que a sua?

Juca não se levantou e sequer deixou de cortar o frango com o garfo, para enfim responder:

- Não acho que você seja melhor do que eu.

- E por que não, espertinho?

Juca encarou Joca como se sentisse pena do pobre rico fazendeiro.

- Porque tudo que você possui é passageiro. Seus amigos só estão ao seu lado porque você é rico e um dia morrerão, deixando-o sozinho. Você não poderá levar sua mansão para a Eternidade e sua carne encherá seu estômago, mas jamais seu coração.

Joca sentou-se novamente, incapaz de encontrar alguma resposta.

Sorrindo com compaixão, Juca continuou:

- Eu, ao contrário de você, possuo aquilo que é eterno. Minha companhia é Jesus, aquele que venceu a Morte e que está sempre ao meu lado. Minha Mansão, ao contrário da sua, está à minha espera na Eternidade. E, quanto ao meu alimento, Jesus é o Pão da Vida e alimenta a minha Alma.

O silêncio reinou na mesa, enquanto Joca e seus amigos coçavam a cabeça.

Juca deu mais um sorrisinho e perguntou ao irmão:

- E então, Joca? Às vezes você não se revolta com a vida?

***

Juca ou Joca?
Quem é você?
Alguém deslumbrado pelo Passageiro ou alguém à espera do Eterno?
Alguém carnal ou alguém espiritual?
Assim como entre Juca e Joca, existe uma cerca que separa a humanidade em dois grupos.

Os adoradores x Os vaidosos.

O primeiro grupo é formado por pessoas cheias por dentro, embora pareçam vazias por fora. Já o segundo, é de pessoas vazias por dentro, escondendo-se em lugares cheios por fora.

E então, de qual grupo você faz parte?

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