29 de dezembro de 2011

Ruínas

Ruínas.

Para onde quer que eu olhasse, elas estavam .

Ruínas do que outrora parecia ter sido uma belíssima cidade.

A paisagem ao redor da estrada era desoladora.

Dezenas de casas com janelas quebradas e telhados destruídos pareciam clamar por Ajuda.

Prédios com paredes parcialmente arrancadas e pintura descascada postavam-se como sentinelas derrotadas, encurvados pela Solidão.

Da placa de um antigo Hotel só restava a letra H, pendendo solta, a um passo de espatifar-se no chão.

Lojas com vitrines quebradas e manequins desmembrados enfileiravam-se em torno do Centro da cidade.

Um velho Restaurante estava completamente revirado, com cadeiras e panelas em todos os cantos.

Porém, em meio às ruínas do que um dia fora uma Praça, estava a construção em pior estado que eu vira até ali: Uma (ex) Igreja.

Na verdade, não passava de um imenso bloco de cimento com uns poucos ladrilhos ainda no lugar.

Através da Porta (amassada e jogada num canto), pude ver os bancos de madeira consumidos pelos cupins.

No lugar do Altar, havia uma montanha de entulho.

Apenas uma Cruz de madeira permanecia inabalável em meio ao Caos, como se estivesse ali para atestar que ali houvera um Templo.

Sentei-me num banco da praça (na verdade em apenas metade dele, já que a outra fora arrancada), tentando descobrir o motivo de tamanha destruição.



Haveria um Tsunami passado por ali?

Ou um Furacão talvez?

Quem sabe até aquilo não era obra de algum Grupo Terrorista vingando a morte de Osama Bin Laden?

- Não.

Ouvi a Voz e soube que de Quem era antes mesmo de me virar para encará-Lo.

Jesus.

Ele se sentou ao meu lado.

Para minha consternação, notei que Ele trajava vestes sujas, respingadas de cinzas e sangue, e que seu rosto estava coberto de.

Em suma, Jesus também parecia estar em ruínas.

- Senhor, o que houve? - Perguntei, tocando-Lhe o rosto empoeirado. - Quem fez isso com esse lugar? Quem fez isso com o Senhor?

A resposta foi simples, porém convicta:

- Você.

Minha réplica foi simples e nada convicta:

- Eu?!

O Jesus empoeirado sorriu para mim.

- Onde você pensa que está? - Perguntou, em tom gentil, não intimidador.

- Eu não sei! - Retruquei, exasperado. - Talvez em algum lugar do Paquistão ou num cenário apocalíptico...

- Quase isso. Estamos dentro do seu coração.

Levantei-me do banco, à beira da indignação.

- Bem, eu admito que meu coração não é um dos mais bonitos, mas não acho que...

- Foi este mesmo Orgulho - Interrompeu-me Jesus. - que causou a ruína dos mais altos prédios do seu coração.

Não pensei ser capaz de encontrar uma resposta.

Permanecemos em silêncio por alguns segundos, até que perguntei a Jesus (ou a mim mesmo?):

- Mas como meu coração pode ter se transformado nesta terrível cidade?

Jesus levantou-se do banco e começou a circular pela Praça antes de me responder:

- Tudo isso que você vê são consequências terríveis de uma única atitude.

Houve uma pausa. Não precisei pedir para que Jesus continuasse:



- A Auto-Suficiência. Ela é a raiz de tudo isso, filho. Você tentou administrar essa cidade com as próprias mãos e deu origem a esta destruição.

A resposta ainda me parecia vaga. Eu carecia de maiores detalhes.

- Mas o que significam todas aquelas casas? - Perguntei.

- São seus projetos. Seus sonhos, metas e objetivos. Você os construiu com muito afinco e cuidado, mas...

- Mas? - Perguntei, temendo ouvir a resposta.

- Mas não me convidou para te ajudar. E, por sua teimosia, foi perdendo tijolo por tijolo, telha por telha... Aquelas casas eram lindas, mas sua fraqueza orgulhosa as estragou.

Abaixei a cabeça, resignado.

- E quanto aos prédios? - Minha voz soou como um murmúrio.

Jesus passou a mão pelos cabelos sujos e respondeu tristemente:

- Eles são os sonhos que Eu tinha para você. Sempre maiores do que os seus, não é?

- Mas quem os destruiu? - Perguntei, sem conseguir compreender. - Satanás?

Jesus chegou o mais perto que conseguiria de uma expressão irônica.

- Satanás? Ele nunca teria poder para isso. - Respondeu, abanando as mãos. - Ele não toca em nada do que é Meu.

- Então, quem...

Não terminei a frase, entendendo instantaneamente quem era o verdadeiro inimigo daquela história.

- Fui eu. - Era uma afirmação, não uma pergunta.

- Sim, foi você. Eu te dei o Melhor, mas você Me ignorou. Levantei os mais altos prédios, mas você preferiu habitar nos casebres que construiu sozinho.

Apesar de destroçada, minha Alma clamava por mais respostas.

- E a Igreja?

Jesus me encarou e, por mais inacreditável que isso possa parecer, não havia acusação em seus olhos.

Havia apenas compaixão quando Ele respondeu:

- Você a destruiu. Como você acha que um coração desse tipo trataria a minha Casa? Quanto mais submisso você for, maior eu serei dentro de você. Porém, quanto mais orgulhoso for...

- Menor o Senhor será.

- Menor, não. Mas inoperante, sim.

Abaixei a cabeça, sem conseguir conter as lágrimas, enquanto Cristo passeava pelas ruínas da praça. Uma hipótese terrível passou pela minha cabeça.

- Fui eu quem te sujou, não foi?

Jesus apenas acenou com a cabeça, como se responder com palavras fosse doloroso demais.

- Perdão, Senhor! Por favor, me perdoe! - Gritei, ajoelhando-me no chão e abraçando os pés do Mestre que eu tanto maltratara. - Eu estraguei tudo, eu...

Para meu espanto, Jesus sorria.

- Você estragou quase tudo, filho. Há algo que ainda permanece de pé.

- O que? - Perguntei, tentando lembrar-me de algo que não estivesse em ruínas.

- A Cruz. Minha Cruz. Sua Cruz.

Lembrei-me da Cruz de madeira, ainda intacta, imponente entre as ruínas da Igreja.

- E o que isso significa, Pai? - Perguntei, receoso em entregar-me à Esperança.

Jesus estendeu a Mão, ajudando-me a me levantar.

- Significa que tudo pode ser reconstruído.

De , desejei cair no chão novamente.

- Não sou capaz. - Respondi.

- Não, não é. Mas Eu sou.



Olhei para aquele rosto santo, coberto de poeira, e mal pude acreditar que nele ainda havia Amor.

Amor por mim!

- E o Senhor faria isso por mim? Faria isso por alguém que destruiu sem piedade tudo aquilo que o Senhor construiu com amor?

Jesus deu um sorriso divertido.

- "Faria isso por mim?" - Ele repetiu minha pergunta. - Acho que a Cruz responde à sua pergunta, filho.

- Mas eu não mereço! - Exclamei, quase gritando.

- Mas eu o amo! - Ele exclamou, sussurrando.

O sussurro venceu o grito.

O sorriso triunfou sobre as lágrimas.

- Venha, filho, vamos começar a Reconstrução.

- E por onde começaremos? - Perguntei, já caminhando ao seu lado.

Jesus ergueu as sobrancelhas, como se a resposta fosse óbvia.

- Pela Igreja, é claro.

2 comentários:

  1. Sumiu kra tá pra ond???? Mt tempo q n te vejo. abraço irmão.Deus te abençoe!

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  2. Muito Lindo, perfeito
    Essa palavra tocou meu coração... adorei de mais

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