14 de dezembro de 2011

O Jardim e a Armadura

A estrada escura parecia interminável.

Caminhava por ela lenta e dolorosamente, temendo desmaiar a qualquer momento.

Cada passo era uma tortura, cada centímetro um obstáculo.

Pensei que não resistiria, até que o avistei.

Como a luz de um farol em meio à escuridão, ele brilhava.

Um Jardim.

Não um qualquer, mas um filhote de Éden.

Milhares das mais lindas flores se enfileiravam e pareciam convidar-me para um passeio.

Prestes a esboçar um sorriso, acabei me trancando numa carranca.

Não ousei dar sequer um passo. Era arriscado demais!

E se, camuflados naquelas lindas flores, houvessem espinhos dolorosos?

E se o Jardim me causasse ferimentos?!

Decidi voltar.

Apesar de feia, a estrada escura me parecia mais segura.



Recuei, porém, poucos passos, quando O ouvi:

- Tem certeza de que não prefere o Jardim, filho?

Era Jesus, confortavelmente sentado em meio às flores.

Vê-Lo fez meu coração saltar, mas não foi o suficiente para fazer minhas pernas se moverem.

- Não há perigo, Senhor? - Perguntei, desconfiado. - As flores não possuem espinhos?

- Você só descobrirá se tentar. - Respondeu-me o Mestre.

Não era a resposta que eu desejava imaginava.

- Mas que garantias eu teria se tentasse? - Repliquei, com as mãos suando.

- Minha companhia. - Respondeu Jesus com simplicidade.

- E ela basta? - Retruquei, a um passo da heresia.

- Isso é outra coisa que você só descobrirá se tentar.

Senti meu coração se acelerar. Precisava decidir.

Olhei novamente para a (feia, admito) estrada escura e em seguida para o Jardim.

Meu espírito desejou o segundo embora minha carne clamasse pela primeira.

Dei o primeiro passo, mas Jesus me interrompeu com um gesto.

- Você não conseguirá sentir as flores se estiver vestindo isto, filho...

Não entendi o que Ele disse, até olhar para meu corpo.

Para meu completo espanto, eu estava trajando uma armadura.



***
Olhei para Ele e, de alguma forma, soube exatamente o que deveria fazer.

Como pudesse (certamente Ele poderia!) ler meus pensamentos, Ele assentiu com a cabeça, incentivando-me a prosseguir.

Respirei, tentando reunir o máximo da (mínima) força que me havia restado.

Comecei pelo capacete, retirando-o com dificuldade e jogando-o no chão.

Senti meus cabelos esvoaçarem ao vento. Como pude não ter reparado antes naquele peso enorme em minha cabeça?

- Melhor assim, não é? - Perguntou-me Jesus, alisando as flores ao seu redor. - Aquele capacete era feito de mentiras. Mentiras que aprisionavam sua mente e que foram contadas a você pelo Medo.

Motivado pela Verdade (e livre da Mentira!), olhei para a couraça metálica que cobria meu peito. Rangendo, como se não quisesse ir embora, ela por fim se soltou.

Senti meu corpo se erguer, como se tivesse crescido diversos centímetros em um instante.

Percebi que havia andado encurvado pelo peso daquela couraça durante todo o meu caminho.

- Não é maravilhosa a sensação de estar verdadeiramente de pé, filho? - Perguntou-me Jesus, sorrindo. - Aquela couraça de Incredulidade trancafiava o seu coração e te impedia de me seguir. Agora, você está livre dela!

Preparei-me para o próximo passo.

Aquele cinto parecia pesar uma tonelada e demorei até que consegui desvencilhá-lo de meu corpo.

Ele também desabou no chão, fazendo com que minhas pernas formigassem. Estiquei-as, subitamente percebendo que o cinto as limitava, tornando curtos os meus passos.

- Aquele era o cinto da Tristeza. - Explicou-me Jesus. - Ele limitava sua ação e encurtava sua área de atuação. A tristeza te impedia de prosseguir, paralisando-o dentro de si mesmo. Agora, porém, você está apto a avançar.

Desta vez fui eu quem sorri. Restava apenas mais um item de minha (ex) armadura.

Sentei-me no chão e comecei a descalçar as botas.

A princípio, os cadarços se embaralhavam em meus dedos, mas finalmente consegui desatar os nós.

Levantei-me e meus pés se remexeram, satisfeitos com o contato com o chão.

Estiquei-me e balancei-me, saboreando a Liberdade.

Olhei para o Jardim e percebi que Ele sorria.

Sorria de maneira especial. Sorria como alguém que se orgulhava de mim.

Corri para abraçá-Lo, mas Ele saiu correndo através das flores.

Sabia, porém, que sua corrida era um convite.

Ele queria que eu conhecesse seu Jardim.

Aliás, meu Jardim.

Comecei a correr, sentindo as cócegas das flores em meus tornozelos.

Não me surpreendi com o fato de que nenhuma delas possuía espinhos...



***

Se sua vida tem sido uma estrada escura, Jesus te convida a apreciar as flores.

Não se preocupe, a companhia d'Ele te basta.

Desfrute do Jardim que Ele preparou para você.

Para isso, livre-se de sua armadura.

E corra.

Corra para os braços do Deus que te ama e te livra de toda e qualquer escuridão.

Ao lado d'Ele, não há espinhos...

2 comentários:

  1. Era tudo que eu precisava ouvir,obrigada Senhor por usar o teu servo para me dizer isso.Não nos conhecemos Arthur,mas Deus te usou para me dizer essas palavras.Que Deus te abençoe sempre.

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  2. Deus falou muito comigo nesse post, obrigado Senhor! Eu quero ir agora mesmo passear no jardim com o mestre... Ele está me convidando... eu posso sentir!

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