28 de junho de 2012

De Alguma Forma...

"E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento. Eu e o moço iremos até ali e, havendo adorado, voltaremos."

Gênesis 22:5


Abraão deveria estar desesperado, mas está seguro.

Deveria gritar, mas fala calmamente.

Planeja a volta mesmo sem saber como será a ida.

Como ele consegue? Simples.

A ignora a Lógica e abraça o Impossível.

Na base do monte, Abraão pede a seus empregados que o esperem voltar.

- Isaque e eu iremos até ali. - Diz. - E, após adorarmos ao Senhor, voltaremos.

Ouvindo-o, você pensaria que ambos iriam a um piquenique de oração.

A verdade, no entanto, é um pouco mais espinhosa.

Abraão leva nas mãos uma faca e uma tocha.

Nos ombros, Isaque leva lenha.

Pai e filho iriam até o topo do monte realizar um sacrifício.

faltava uma coisa: O animal a ser sacrificado.

Isaque não precisou ter um Facebook para perceber esse detalhe.

- Pai, temos tudo. - Diz o jovem. - Mas... onde está o cordeiro?

Por favor, respire fundo.

E, se possível, coloque-se ao lado de Isaque e olhe para o rosto enrugado de Abraão.

Naquele momento, ele sabia que o "cordeiro" era seu filho.

Sabia que levava Isaque para a morte.

Sabia que sacrificaria a mais preciosa parte de si mesmo.

Ouvir aquela pergunta poderia tê-lo feito desmoronar. Mas Abraão preferiu profetizar:

- Deus proverá o cordeiro, meu filho.

Não há dúvida em suas palavras.

Não há medo.

Tampouco ironia.

Abraão fecha os olhos, se lembra de seus empregados ao pé do morro e, de alguma forma, crê.

Crê!

E eles continuam a subir a montanha...




***

Abraão não estava entendendo nada, mas isso não o impedia de crer em tudo.

Na noite anterior, Deus lhe aparecera.

E, ao contrário das costumeiras boas notícias, trazia-lhe uma bomba:

- Abraão, tome teu único filho e ofereça-o a Mim em sacrifício, no topo do monte Moriá.

Uma Ordem clara. Porém não ameaçadora.

Não há nenhum "senão" na Ordem de Deus.

Nada como:

"Abraão, faça isso ou eu te mato!"
"Abraão, faça isso ou eu te deixo aleijado!"
"Abraão, faça isso ou eu te obrigarei a ser vascaíno!"

Não, nada de trocas, barganhas ou bravatas.

Deus deu apenas uma Ordem. Ordem esta que poderia ser desobedecida.

Abraão, no entanto, sequer cogitou essa possibilidade.

De alguma forma, ele soube que iria.

Ele obedeceu.

"Por que?", perguntamos, "Como ele pôde?".

Tenho um palpite. Acho que ele se lembrou de algo que costumamos esquecer:

Deus é bom.

E, de alguma forma, tudo acabaria bem.




***

- Chegamos, pai. - Diz Isaque, pousando a lenha no chão.

Abraão assente e olha para o céu.

E, ainda que não nada veja, crê.

***

Isaque não era bobo.

É impossível não suspeitar de algo quando se vê o pai retirar uma corda do bolso.

É impossível não gritar e perguntar "Por quê?" enquanto ele começa a amarrá-lo.

É impossível não chorar ao ver o brilho da faca presa à cintura do pai.

Os olhos de Isaque gritam.

"Pai, farás isso comigo?"

Abraão, porém, os venda.

deposita o filho amarrado sobre uma grande pedra.

O Altar está pronto.

Abraão pega a faca e, novamente, olha para o Céu.

Nada acontece.

"Senhor, farás isso comigo?"




***

Abraão olha para o filho amado.

E mais uma vez tem a chance de desobedecer.

Desamarrá-lo e acabar com tudo aquilo.

Ir embora e simplesmente ignorar o Deus que o levou até ali.

Mas, de alguma forma, ele decide ficar.

Ergue a faca ao céu.

Fecha os olhos.

E desfere o golpe.

***

Se Deus fosse como pensamos que é, este seria o fim da história.

Nós também subimos montes.

Agendas lotadas
Empregos competitivos
Famílias complicadas

Nos também possuímos Isaques.

Sonhos
Planos
Namorados

Mas, ao contrário de Abraão, não cremos no "de alguma forma".

Quando Deus ordena, desobedecemos.

Quando não O entendemos, preferimos ignorá-Lo.

Quando Ele nos tira algo, nos revoltamos.

Quando Ele nos pede algo, acusamo-No.

Se Deus fosse como pensamos, a faca de Abraão teria rasgado a pele de Isaque.

Mas, de alguma forma, Deus nos ama.

E é esse Amor que escreve a nossa história...




***

- Pare, Abraão!

Com a faca a um palmo do coração de Isaque, uma voz é ouvida.

Um Anjo aparece.

E, de alguma forma, Abraão não está surpreso.

(Ele nunca deixou de crer, lembra-se?)

- Não faça nada com seu filho! - Diz o Anjo. - Este foi uma prova e você foi aprovado. Agora, todos saberão que você é fiel a Deus!

O Anjo se vai.

Amarrado e vendado (porém não surdo), Isaque chora.

E o pai, antes carrasco, se torna exemplo.

Abraão o abraça e o liberta das cordas.

Antes, porém, que algo possa ser dito, um "béééé" é ouvido.

Um cordeiro, preso entre arbustos, mostra que, de alguma forma, Deus havia provido!




***

- Vamos voltar para casa, pessoal! - Diz Abraão, abraçado a Isaque.

Os dois empregados olham para os patrões sorridentes.

Aparentemente, o tal piquenique deve ter sido ótimo...

Um comentário:

  1. Abraão se tornou o pai da fé.
    E sua fé se fortaleceu a cada experiência com Deus.
    Deus havia prometido que dele surgiria uma grande nação.
    Nem Eliézer (servo nascido em sua casa), nem Ismael (filho da serva de Sara com Abraão), mas Isaque, filho da velhice de Abraão e Sara.
    E Abraão creu. "Afinal, Deus prometeu que de mim surgiria uma grande nação".
    "Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel; tudo se cumpriu." (Js 21:45)

    Depois de não crer que Deus o poderia sustê-lo em meio a fome, e não crer inicialmente que Sara poderia gerar um filho, agora sim podemos perceber o trabalhar de Deus em Abraão. Sua pouca fé se tornara grande. Ele cria na palavra do Senhor.
    "Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (Hb 11:1)
    "Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia." (Hb 11:8)
    "Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel testemunha aquele que lhe havia feito a promessa."

    Que possamos experienciar Deus e Sua palavra a cada dia. Assim, teremos fé inabalável.

    Perdão! Não queria me estender tanto no meu falar.
    Jesus é o nosso Senhor!
    Abraço.

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