Ser salvo é receber o prêmio de voltar para casa. É experimentar o Éden que Adão e Eva perderam. É abraçar o Pai que tudo fez por mim e que deseja tirar uma foto meu lado.
- Arthur, sente-se aqui comigo, filho. - Ouvi a voz de Jesus, que estava atrás de mim.
Virei-me e vi que a poltrona branca havia sido substituída por um sofá vermelho, com uma mesinha de centro de madeira, onde havia um livro muito grosso, de capa de couro muito gasta e páginas amareladas.
Eu sorri e me sentei ao lado do Mestre, que estava com o livro nas mãos, sacudindo-o para tirar a poeira que o impregnava. Cheguei a tossir um pouco, tamanha a quantidade de pó que saía do livro.
Jesus finalmente o abriu e eu pude ver as palavras inscritas na primeira página:
ARTHUR PINHO VIVAQUA ROCHA
Olhei para Jesus, sem entender.
- Isto é...
- O livro da sua História. - Ele me respondeu, já virando algumas páginas.
- Mas...
- Você se lembra da biblioteca da casa lá embaixo?
- Sim. - Respondi. - Tinha todos os meus livros preferidos.
- Exatamente. Esta é a minha biblioteca e este é um dos meus livros preferidos. - Respondeu Jesus, sorrindo como se aquela afirmação fosse a mais óbvia do mundo.
Eu continuei calado, ainda em estado de choque, e Ele se virou para mim.
- Arthur, não sei o porquê de tanto espanto. Você nunca leu o Salmo 139? O versículo 16 diz:
"Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas, quando nem ainda uma delas havia."
- Davi escreveu isso a meu pedido, Arthur. Todos têm o Livro de suas vidas escrito por mim.
A revelação me atordoou. Claro que eu já havia lido o Salmo, mas na verdade, no fundo de nosso corações, muitas vezes não achamos que a Bíblia é "literal", não é?
- Então todos os meus dias, até a minha morte, está escrito aí neste livro? - Perguntei, olhando com desconfiança para o livro velho e encardido.
- Sim. - Respondeu-me Jesus, que, ao contrário de mim, parecia ver o livro como uma linda obra de arte.
- Mas o Senhor não disse que todos possuem livre-arbítrio para tomar suas próprias decisões? Se é assim, como tudo que farei já pode estar escrito? Todos têm um destino então?
- Você acaba de cometer um erro gravíssimo, filho. - Jesus me respondeu com seriedade, mas ainda sorrindo. - Essa palavra, "destino", leva muitas pessoas à perdição. Muitos se acomodam e param de lutar pela vida, achando que seu "destino" já está traçado, outros utilizam o tal "destino" para alimentarem sonhos ruins e desejos perversos.
O "destino" falado por vocês é uma espécie de deus cruel, que determina seu futuro e escraviza suas escolhas. "Destino" é a ideia de que "não importa o que eu faça, aquilo vai acontecer comigo". Esta realidade é completamente oposta ao sentido do meu Livro.
Eu permaneci em silêncio, digerindo aquela verdade.
- Como você mesmo disse, - Continuou Jesus. - vocês possuem o livre-arbítrio de suas escolhas e eu não interfiro em suas decisões. Como te disse, eu os chamo, aconselho, pastoreio e aviso, mas nunca obrigo ninguém a nada. Porém, eu sou onisciente, e por mais que eu não interfira, eu sei quais decisões você tomará e por isso posso escrever um Livro sobre toda a sua vida. Nenhuma de suas escolhas me surpreenderá ou me assustará, pois eu sondo o seu coração e já escrevi os seus dias.
- Eu ainda não entendo! - Eu disse, ansioso em compreender melhor. - Qual é então a diferença entre destino e o seu Livro sobre mim?
Jesus fechou as mãos e em seguida as abriu. Em cada uma delas havia um botão de camisa. Um deles era vermelho, o outro era azul.
- Qual você acha mais bonito? - Jesus me perguntou.
- O vermelho - Respondi.
- Isso é o meu livro. Por acaso eu te influencei a escolher o vermelho? Obriguei você? Falei algo em sua cabeça?
- Não.
- Mas, é claro que eu já sabia que você escolheria o vermelho. Se isso fosse "destino", eu faria alguma coisa para obrigar a escolha do vermelho. No entanto, você poderia ter escolhido o azul a hora que quisesse. Entendeu agora?
- Acho que sim. - Respondi.
- Sei que entendeu. Assim é nas decisões de sua vida. Eu o deixo livre para escolher, embora já saiba qual será sua escolha.
- Gostaria que o Senhor escolhesse por mim... - Lamentei. - Faço tantas escolhas erradas!
Jesus colocou a mão em meu ombro.
- Eu também gostaria, mas, como te disse, meu Amor não gosta de controlar, mas de libertar. Quero que você escolha aquilo que me agrada por livre e espontânea vontade.
Eu apertei suas mãos com força e disse:
- Eu quero, Pai! Quero te agradar com todas as minhas escolhas e...
Fui interrompido pela risada de Jesus.
- O que foi? - Perguntei, ligeiramente ofendido.
Ele se aproximou para me abraçar, mas antes, me olhou nos olhos e disse:
- Eu sei que você quer me agradar, mas você consegue identificar a "auto-suficiência" que existe dentro de você? Quando te mostrei os botões e te perguntei sobre qual era mais bonito, nem passou pela sua cabeça perguntar a minha opinião. É por agir da mesma forma na vida, que você e a humanidade passam por tantos problemas...
Ele me abraçou, suspirando, e eu deitei a cabeça em seu ombro. Percebi que realmente me guiava sempre pelo que eu achava certo ou bonito e que minhas escolhas muitas vezes eram erradas.
Eu não queria sair do abraço, mas tinha mais uma pergunta a fazer:
- Jesus, por que o livro é tão velho? Ele parece ter séculos de idade e eu só tenho vinte anos...
Ele não precisou me soltar para sussurrar em meu ouvido:
- Você só tem vinte anos, mas seu livro e o de todos foram escritos antes mesmo da fundação do mundo. Você não acha que nasceu por acaso, não é?
CONTINUA
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