28 de maio de 2011

O Andar de Cima - Parte 2

PARA ENTENDER ESTE POST, ABAIXE A TELA E LEIA A PARTE 1!

Ao contrário da casa, que não possuía janelas, o andar de cima possuía paredes de vidro, revelando o que havia lá fora.

E o que eu via me assustou de tal maneira, que não conseguia dar sequer um passo, e encostei-me à parede.

Os vidros revelavam que uma grande tempestade caía. As águas batiam fortemente contra o andar de cima e eu não me surpreenderia se os vidros se espatifassem a qualquer momento. A completa escuridão do lado de fora só era quebrada pelos raios.

Eu, particulamente, preferia que não houvesse raios, pois sua luz revelava coisas ainda mais terríveis. O andar de cima estava rodeado por centenas de morcegos negros, que se lançavam contra os vidros, tentando entrar. O barulho era ensurdecedor e eu não pude deixar de notar que a maioria dos morcegos trazia sangue em suas presas.

Como se essa visão não bastasse, algo ou alguém estava lançando grandes pedras que batiam nos vidros com estrondo. Não tive dúvidas: Aqueles vidros se quebrariam e eu me veria sozinho em meio à chuva, aos morcegos e às pedras.

Eu havia caído numa armadilha! Comparado com o silêncio da casa de baixo, o andar de cima, com seu barulho da chuva, o uivo dos morcegos e as pancadas das pedras, era o verdadeiro Inferno!

Tateei a parede com os cotovelos, enquanto tampava os ouvidos com as mãos, em busca da porta pela qual entrara, ansiando em descer as escadas novamente, quando A Voz me chamou.

- Filho, fique calmo.

Olhei para trás, mas antes que verdadeiramente O visse, O senti. Sua mão tocou meu ombro e instantâneamente o barulho cessou.

A chuva continuava a cair, os morcegos ainda estavam lá e as pedras ainda batiam nos vidros, mas um novo siêncio começou a reinar. Se eu descrevi o silêncio da casa como acolhedor, não sei qual palavra utilizar para descrever o silêncio que experimentei.

Gradualmente, as batidas do meu coração se acalmaram e eu me virei para trás, buscando ver quem estava tocando em meus ombros, embora já o soubesse.

- Senhor? - Perguntei.

- Sim, Arthur, sou eu. - Jesus me respondeu, sorrindo.

Eu sorri de volta e abri a boca, mas antes que eu pudesse pronunciar algo, Ele me puxou pela mão.

- Já responderei a todas as suas dúvidas, filho, mas podemos nos sentar? Temos muito o que conversar...

Ele me conduziu gentilmente pela mão até uma poltrona no centro do local. Ela era tão grande, que nós dois nos sentamos confortavelmente.

Olhei para os vidros que cercavam a poltrona e tentei fazer uma piada.

- Não é uma vista muito bela, não é? -PEeguntei

Jesus passou a mão pelos meus cabelos e me respondeu, como se estivesse respondendo à uma questão boba, feita por uma criança.

- Talvez não seja bela, mas é fundamental.

Ele se vira para mim, ainda com um sorriso divertido, debruça a cabeça nas costas da poltrona, e me desafia:

- Pode começar, filho. Pergunte-me o que quiser.

As dúvidas eram tantas, que nem soube por onde começar. Escolho a pergunta mais óbvia:

- O que é a casa lá embaixo?

- Você deveria saber, já que foi você quem a construiu.

- Eu?!

Jesus sorriu compassivamente, embora eu pensasse estar notando um toque de tristeza em seus traços.

- Sim, você. Embora tenha tido uma grande ajuda, é claro.

- Ajuda de quem? Do Senhor? - Perguntei, feliz e pensando ter compreendido tudo. A casa provavelmente era o Paraíso!

- De Satanás. - Respondeu-me Jesus, olhando para mim com olhos lacrimejantes e dilacerando-me a alma.



Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que eu reuni forças para perguntar:

- Por que Satanás construiria para mim um lugar tão bonito?

- Filho, há dois erros nesta pergunta. - Disse Jesus, enquanto voltava a acariciar-me os cabelos. - Primeiramente, você e a maioria das pessoas imagina que Satanás se apresentará a vocês como um monstro ou como uma criatura com rabo e dentes afiados. Essa é uma visão muito errônea e limitada. Embora ele realmente seja horrível hoje em dia, conservou o poder de ser belo, como era outrora. Eu escrevi isso em 2Coríntios 11:14, todos deveriam saber.

Eu o ouvia atentamente e pensei em interrompê-lo, mas sabia que Ele ainda não havia terminado. Portanto, continuei em silêncio, à espera de mais explicações.

- Filho, o fato da casa ser bonita não quer dizer que ele não tenha se envolvido. Ele é especialista em camuflar maldições atrás de bênçãos. Entendeu?

- Entendi, Pai.

- E você cometeu outro erro ao dizer que ele construiu a casa para você. Eu lhe disse que ele havia contruído com você. Muitos de vocês dão a Satanás poderes que ele não tem. Ele é fraco demais, e não pode controlar a sua vida, que é minha. Tudo que ele faz para te destruir, ele faz com a sua ajuda! Sem você, ele nada pode fazer. Ele se utiliza das brechas de seu coração para te afastar de mim.

Eu pude perceber a compreensão entrando em meu espírito, como um objeto que sempre esteve à minha frente, mas que eu eu nunca consegui enxergá-lo.

- Então, o que é a casa? - Perguntou o novo Arthur, aquele que enxergava.

Jesus não tirou os olhos de mim, enquanto uma lágrima escorria-lhe pela face. O Deus que chorara diante do túmulo de Lázaro estava chorando mais uma vez.

- A casa é o que Satanás deseja que seja a sua Alma. Uma Alma voltada apenas para si mesma, focada em prazeres, muda e surda diante da realidade do mundo que a cerca, preocupada apenas em ser feliz.

Subitamente, enxerguei aquela casa com outros olhos e tive nojo dela. Lá, eu só pensava em mim, esquecendo-me de todo o resto. Lá, eu era o protagonista da minha vida.

- E o andar de cima, o que é? - Perguntei, ansioso por entender toda aquela Verdade tremenda.

Jesus sorriu mais uma vez, e disse em tom brincalhão:

- Você está indo rápido demais. Ainda preciso te explicar sobre os livros, a comida, as fotografias, o silêncio, a escada e o cadeado da casa. Ainda temos muito assunto pela frente, Arthur. Apenas relaxe, escute e permita-se ser transformado...

CONTINUA...

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