30 de maio de 2011

O Andar de Cima - Parte 4

Para entender este Post, abaixe a tela e leia as Partes 1, 2 e 3

Eu encarei o vidro por mais alguns instantes e comecei a andar em círculos pelo andar de cima, enquanto Jesus voltou a se sentar na poltrona, como se soubesse que eu necessitava de algum tempo e espaço naquele momento.

A cada passo, eu tentava digerir da melhor forma possível cada uma das Verdades Grandiosas que já me haviam sido reveladas. Minhas mãos ora percorriam meu queixo, ora se apoiavam em minha cintura.

Eu ainda estava chocado e paralisado ante a revelação de todos os erros e falhas que eu havia cometido durante toda a minha vida, mas sentia uma felicidade ainda maior com a satisfação de finalmente saber a Verdade.

Eu era um sobrevivente de um acidente, ainda assustado com a batida do carro, mas feliz por estar vivo.

O Verdadeiro Silêncio envolvia a atmosfera. Fiz a primeira das muitas perguntas que ainda estavam no ar:

- Por que toda a casa era tão bela, mas a escada era feia e assustadora? E, por que a escada estava ali, já que fomos eu e Satanás que construímos a casa, e não o Senhor?

Jesus sorriu novamente e eu pude vislumbrar mais uma de suas facetas. Ele se parecia com um Amigo, prestes a compartilhar comigo uma travessura.

- Eu vou responder, mas posso te pedir algo antes? Sente-se aqui comigo, gosto de proximidade.

- Claro. - Respondi, assustado com o fato de meu Criador me pedindo alguma coisa. Sempre imaginei a Deus como um receptor de pedidos, mas nunca como um Ser que possuía seus próprios desejos.

Eu atendi ao pedido e me sentei ao seu lado. Imediatamente, senti toda a bolha de felicidade que envolvia minha alma se encher ainda mais. Jesus, o leitor de corações, entrou em ação mais uma vez:

- A sensação é bem melhor ao meu lado, não é? É uma pena que muitos insistam em andar em círculos pela vida ao invés de simplesmente sentar-se ao meu lado...

Eu concordei com a cabeça, consciente de que eu mesmo vivia daquela maneira. "Não mais.", pensei. "Não serei mais o mesmo".

- Bem, filho, vamos às respostas. - Jesus interrompeu meus pensamentos, sorrindo. - Suas perguntas foram feitas fora de ordem, por isso vamos começar pela segunda.



Ele se virou para mim e olhou em meus olhos, repetindo a minha pergunta.

- Por que havia uma escada ali, se não fui Eu que contruí a casa? Acho que a melhor resposta que tenho é uma outra pergunta: Existe alguma construção na qual eu não possa entrar?
 Arthur, toda alma é uma casa, e em todas, eu pus minhas escadas. Muitos mobiliam a casa sozinhos ou permitem que Satanás os ajude, mas não podem mudar o fato de que a propriedade é minha. Toda casa tem uma escada que os leva ao andar de cima e todos podem subir assim que quiserem.
 A Mim foi dado todo o Poder. Não "quase todo", mas Todo. Até seus piores erros e mais fracassados planos são meus. Minhas escadas estão em todas as casas, até nas mais sofisticadas e funcionais.

- Mas, Jesus, eu conheço ateus, incrédulos e pessoas completamente resistentes ao Evangelho. Há escadas na casa deles?

Há. - Jesus acariciou meu rosto. - Eles não sobem, mas a escada está sempre lá! Claro que eles estão ocupados demais deleitando-se com o andar de baixo para prestarem atenção na escada. Muitos não a enxergam com clareza, outros decidem não subi-la, mas todos sabem que ela está lá.

- Todos? - Duvidei. - Não existem pessoas que consigam criar uma vida independente do Senhor? Pessoas que realmente pensam que o Senhor não existe?

Jesus afastou a hipótese, abanando as mãos.

- Arthur, viver sem mim é como fazer um "gato" na luz elétrica. As coisas funcionam, mas a conta vem adulterada. O dono se sente vencedor, quando na verdade está enganando a empresa geradora de energia.
 O andar de baixo é lindo e eficiente, mas não é o bastante para ninguém. Ele é como o "gato" da luz. Beneficia, funciona e alegra, porém não é verdadeiro. No fundo de suas almas, todos ouvem a minha Voz, embora muitos permaneçam lá embaixo.

- Então por que o Senhor não as ajuda a subir? - Perguntei, não em tom de cobrança, mas de dúvida sincera. Pensava nas pessoas que eu amava e que ainda estavam "lá embaixo". Queria que todos experimentassem o que eu estava sentindo.

Vi lágrimas brotarem dos olhos de Cristo e escorrerem lentamente quando Ele me respondeu:

- Eu as chamo, Arthur. Convido a todos insistentemente, assim fiz com você. Infelizmente, não posso descer novamente para buscá-las. Já fiz isso uma vez, entrando num ventre humano e morrendo por eles. Agora, o que posso fazer é chamá-los pelo nome, dizer que estou aqui, e esperar que subam.
 Não quero ser amado por obrigação, mas por escolha. Essa é a parte mais dolorosa do Verdadeiro Amor: Permitir que a pessoa amada não te corresponda, se não quiser. O que te garanto é que eu vivo chamando a todos e nunca desisto de ninguém, até o último instante.

- Eu amo ser amado por Você, Jesus. Obrigado por ter me chamado. - Lancei-me em direção aos seus braços e Ele me abraçou, sorrindo muito.

- Isso é tudo que Eu preciso ouvir das pessoas! Nada de orações imensas ou regras complicadas. Apenas confissão e amor...

Ficamos em silêncio por alguns momentos e imaginei em quantas milhões de pessoas Jesus estaria pensando, enquanto via seus olhos derramarem lágrimas que eram refletidas pelos vidros das janelas.

- Bem, vamos à minha primeira pergunta? - Perguntei, com um sorrisinho tímido.

- Vamos. Você me perguntou porque toda a casa era bela, mas a escada que trazia até Mim era tão "feia e assustadora" em suas palavras.

- Desculpe. - Murmurei, envergonhado com as palavras que havia utilizado.

Jesus ajeitou-se na poltrona e segurou minhas duas mãos.

- A descrição foi correta, filho, e esta é uma das partes mais difíceis de se explicar. Você viu o quanto o Andar de Cima é lindo, então deve se perguntar porque o caminho até ele é tão árduo. Todos se fazem esta pergunta...
 A resposta para ela tem a ver com a minha Glória. Tenho um compromisso com ela, filho. Todos vocês foram criados para refletir a minha Glória. Pus minha Igreja no mundo para que o mundo fosse transformado por ela! E é através de suas lutas, através de suas vitórias difíceis, que o mundo vem até mim.

- Então... - Comecei, mas Jesus não precisou que eu terminasse a frase.

- Sim. Uma escada linda e simples não chamaria a atenção de ninguém. Uma escada tenebrosa, porém, faz as pessoas pararem para te olhar. Sei que cada degrau é difícil, Arthur, mas continue a subir...

Eu chorava, percebendo que a escada representava todas as lutas que encontrei em minha caminhada com Cristo. Perseguições, portas fechadas, enfermidades, dificuldades...

Jesus me abraçou e, juntos, recapitulamos cada "degrau" da minha vida até ali. A cada trauma compartilhado, Jesus, chorando comigo, apenas dizia:

- Eu estava lá, Arthur. Eu estava lá...

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