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Jesus permaneceu me encarando ternamente por alguns segundos, antes de continuar:
- Filho, analisando calmamente, o que você diria que mais te atraiu na casa? - Ele me perguntou.
Refleti sobre a questão e tive o impulso de responder que foram os livros e a comida, mas novamente, Jesus pareceu ler meus pensamentos e me interrompeu.
- Não responda baseado nos sentidos do seu corpo, mas nos do seu coração.
Ele olhou nos meus olhos e instantâneamente percebi a resposta correta. A segurança doce que eu senti lá embaixo, aquele bem-estar aparentemente sem fim e aquela paz de espírito tinham origem no...
- O silêncio. - Respondi, enquanto simultâneamente dava-me conta daquela realidade. - O que mais gostei foi do silêncio. Lá embaixo era muito tranquilo e isso me trazia paz...
Jesus utilizou mais um de seus sorrisos. Este se parecia com o de um professor ouvindo um aluno chegar a uma brilhante conclusão.
- Exatamente, o silêncio. Você não lida muito bem com o barulho, não é?
Percebi que a pergunta era retórica e não respondi.
- Você teme o que há lá fora. - Disse Jesus, apontando para o caos de água, morcegos e pedras que continuavam a bater nos vidros. - Você prefere esconder a alma em uma casa sem janelas para que não precise encarar a realidade.
A cada palavra ouvida, um par de algemas parecia se quebrar dentro de mim. Parte do meu eu desejava ardentemente falar, expôr ou acrescentar algo, mas sucumbi ao desejo de simplesmente ouvi-Lo.
Recostei a cabeça na poltrona e me rendi. Sabia que havia mais algemas que precisavam ir ao chão.
Jesus assentiu com a cabeça antes de continuar a falar, como se naquela fração de segundo em que relaxei, Ele houvesse lido minha decisão e concordasse a respeito.
- Arthur, note uma coisa muito importante: A chuva, os morcegos e as pedras estavam rodeando a casa o tempo inteiro, embora só aqui em cima você possa vê-los e ouvi-los. A casa utilizava-se do silêncio para te enganar, dizendo que tudo estava bem lá fora, quando na verdade não estava.
- Mas, Jesus, não é bem melhor viver assim? - Percebi que há muito tempo, antes mesmo de ser levado à Casa, queria fazer aquela pergunta. - Eu não gostaria de ver e ouvir essas coisas horríveis. Preferia estar no silêncio da casa, descansando no Senhor.
Tive medo de que se irritasse com aquela pergunta, mas senti Amor irradiar através de sua resposta:
- Descansar em mim não é fugir dos problemas, Arthur, mas é fazer exatamente o contrário. É encarar os problemas confiando mais no meu Poder do que em seus efeitos. O verdadeiro descanso em Mim envolve duas faces: Paz além do entendimento e Coragem para combater as trevas. Isso é completamente diferente de se sentar em silêncio, não é?
Não foi difícil para mim fazer uma retrospectiva e ver de quantos problemas fugi enquanto mentia para mim mesmo, dizendo estar "descansando no Senhor".
Percebi que preferi viver em silêncio, enquanto a chuva continuava a cair do lado de fora. Jesus ainda me encarava com uma divertida compaixão.
- E, quanto à sua pergunta, realmente é bem melhor viver no silêncio da casa. - Ele me disse, erguendo as sobrancelhas. - É mais cômodo. Assim como teria sido mais cômodo se eu tivesse morrido velhinho, curando milhares de pessoas, ao invés de enfrentar a Cruz e curar toda a humanidade.
Uma lágrima rolou pela minha face e eu só consegui murmurar uma palavra:
- Desculpe.
- Está perdoado. - Respondeu-me o Mestre. - O Falso Silêncio que Satanás oferece persegue toda a humanidade, Arthur. E perseguiu a Mim também. Podemos fingir que tudo está bem e viver segundo o nosso coração ou podemos crer que tudo ficará bem e viver segundo o coração de Deus...
Mais algemas se quebraram. Como eu pude me esconder por tanto tempo ao invés de lutar? Como pude ser cego ao invés de enxergar?
- Cegueira. - Concordou Jesus. Sabia que ele dialogava com minha alma, sem que eu precisasse abrir a boca. - É exatamente isso que o Falso Silêncio causa. Te trouxe ao andar de cima para te mostrar que a vida em minha Presença possui paredes de vidro.
Olhei novamente para a confusão lá fora e repentinamente comecei a entender o que tudo aquilo significava. Sem que eu precisasse perguntar, Jesus me respondeu.
- Sim. A chuva representa as suas falhas, que ininterruptamente batem à sua porta, lembrando-o de erros passados. As pedras representam algumas pessoas, que sempre tentarão "quebrar o vidro" dos seus sonhos, proclamando palavras negativas. E, quanto aos morcegos, eles são os demônios que vivem ao seu derredor, clamando por seu sangue.
Eu me levantei da poltrona, levei as mãos à boca e observei mais atentamente a chuva, lembrando de todos os erros que me perseguiam. Vi uma grande pedra e pensei nas críticas que me desanimavam. Olhei nos olhos de um morcego e percebi pela primeira vez o tamanho do ódio que o Inferno nutria por mim.
Após um momento que pareceu-me uma eternidade, Jesus se levantou e pousou as mãos em meus ombros, seus dedos me massageando.
- Eu tenho o Verdadeiro Silêncio, Arthur. Foi o que você sentiu quando eu te toquei. Todos eles - Pude captar o desprezo em sua voz, enquanto sussurrava em meu ouvido, apontando para fora. - estão lá, "fazendo barulho" e tentando chamar sua atenção. Mas se você estiver ao meu lado, não escutará nada. Eles continuarão lá, mas não poderão te afetar. Isso é descansar em Mim. A grande questão aqui é: "Você tem se rendido a qual Silêncio?". Você tem fechado as janelas da alma ou encarado seus problemas pelo vidro?
Eu não tive palavras para expressar o que sentia naquele momento. Simplesmente não sabia o que dizer ao ver a batalha em torno de minha alma através de uma janela. Era uma visão grandiosa, mas essencialmente simples. Havia uma disputa, onde o prêmio era eu.
- Agradeço em nome da humanidade por ter criado a Terra. - Murmurei. - O "Mundo Espiritual" é muito feio, não aguentaríamos enxergá-lo assim...
Ouvi Jesus rindo ao meu lado. Sorriso de irmão mais velho.
- Ele é feio se vocês olharem para fora, mas, acredite, esse vidro inquebrável é lindo e é muito mais importante do que o resto. Aprenda a enxergar aquilo que realmente importa...
CONTINUA...
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